ALUCINAÇÃO
CRADLE OF FILTH/ NAPALM DEATH/BORKNAGAR
Tendo em conta que, em Portugal, o sexteto
britânico Cradle of Filth é um dos colectivos mais populares dentro do black metal
contemporâneo, a expectativa que rodeava este concerto era bastante notória no
público, que esgotava a lotação do Paradise Garage. Uma excitação criada, em grande
pane, pelo anulamento de uma data em território português, no primeiro semestre deste
ano, mas. também pelos excelentes resultados obtidos pela mais recente proposta do grupo,
«Cruelty and the Beast». 
Como tem perfeita consciência de que a sua legião de seguidores é
bastante extensa no nosso país, a banda britânica não podia deixar de tocar em
território nacional nesta segunda digressão de promoção ao dito trabalho. Felizmente,
não desiludiram os seus fãs e à saída as caras que se cruzaram comigo eram de
satisfação plena, o que acaba por ser um facto curioso se repararmos que as reacções
obtidas pelos Cradle of Filth aqui são bastante distintas daquelas provocadas em países
como Inglaterra ou Alemanha. Em relação ao espectáculo a que tive oportunidade de
assistir no Festival Wacken deste Verão, o sexteto mostrou-se muito mais coeso e dono de
si próprio. O facto de, desta vez, estarem a tocar como cabeças de cartaz teve muita
influência nisso porque permitiu, à banda, trazer a Portugal, para além da música,
todas as guloseimas que permitem agarrar uma audiência e não desiludir ninguém. A
formação apareceu alargada (com a inclusão de uma vocalista), o repertório foi
escolhido a dedo para satisfazer, simultaneamente, os fãs mais antigos e os mais
modernos, o espectáculo de luzes era majestoso e a participação de uma bailarina foi
alimentando as fantasias de grande pane do contingente masculino presente na sala
lisboeta. Musicalmente há que dar a mão à palmatória: depois de tantos espectáculos,
a banda mostrou-se mais oleada do que nunca e a sensação de que, depois de tantas
mudanças de formação, se tinha perdido o verdadeiro espírito de equipa começa a
desvanecer-se. Acima de tudo porque o material de «Cruelty and the Beast» é mesmo muito
forte e, por exemplo, «Cruelty Brought Thee Orchids» é um dos temas mais memoráveis
dos Cradle of Filth.
Do último trabalho interpretaram ainda, «Beneath the Howling
Stars», «Desire in Violent Overture» e «The Twisted Nails of Faith». No seu todo, o
espectáculo foi um desfilar de momentos altos, das recordações do álbum de estreia
(«Summer Dying Fast», «Forest Whispers My Name», «To Eve the Art of Witchcraft») aos
melhores temas de «Vempire» e «Dusk and Her Embrace». Pelo meio ainda houve tempo para
tocar quatro segundos de « Dead », dos Napalm Death, e para um final demolidor com uma
fusão de «Hell Awaits», dos Slayer, e «Sodomy and Lust», dos Sodom.Antes disso, os
Napalm Death, em cerca de cinquenta minutos de actuação, interrompida por um cone de
energia que demorou quase uma hora, mostraram que ainda são um dos expoentes máximos da
música mais extrema e brutal. Se formos suficientemente simplistas e deitarmos fora
rótulos como grind core ou death/grind chegamos facilmente à conclusão de que este
quinteto inglês toca rock extremo, nada mais e nada menos do que isto. Música de
contornos brutais condimentada por pormenores, utilizados de forma inteligente, que a
tornam, ao mesmo tempo, imediata mas também muito pesada.
O atribulado espectáculo de quarta-feira passada traçou uma linha
esclarecedora pelos melhores momentos da carreira da banda, da velocidade desenfreada de
«Abstain», «Control», «Scum» ou «Nazi Punks Fuck Off» aos temas mais complexos que
caracterizaram os últimos trabalhos da banda. De «Words of the Exit Wound», o trabalho
que promoviam aqui, tocaram «Next of Kin to Chaos», «The Infiltraitor» e «Cleanse
lmpure»; temas devastadores mas cheios de groove. Ao pouco conhecido colectivo norueguês
Borknagar coube a árdua tarefa de abrir este espectáculo. A banda encontra-se neste
momento a promover o seu terceiro álbum de originais, «The Archaic Course» e, como é
natural, basearam a sua actuação nesse material mais recente. Infelizmente, a banda
enfrenta uma fase de transformações e o que vimos em Lisboa foi uma versão reduzida da
banda; basta dizer que quem estava no lugar de baterista era Lustin Greaves, dos lron
Monkey, e que era um dos guitarristas que estava a cantar. Em termos sonoros, o que este
quarteto faz é misturar black e heavy metal de contornos épicos aos quais acrescentam
umas pinceladas de folk nórdico. Ao vivo, com a ausência dos teclados, o material
torna-se muito mais roqueiro e consegue criar uma boa dinâmica mas, mesmo assim, acabaram
por ficar aquém das expectativas.
