Cradle, Napalm... no Garage

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 A actuação dos Napalm Death foi interrompida pela falta de corrente eléctrica

Com o mega-espectáculo de Slayer, Sepultura e System of a Down ainda a ecoar na memória, os fãs de metal voltaram quarta-feira a saborear um espectáculo assombroso. Desta feita os protagonistas foram os Borknagar, Napalm Death e Cradle of Filth, que levaram até ao Paradise Garage perto de um milhar de entusiastas adeptos das sonoridades extremistas. Numa noite em que o negro virou traje oficial, nem a falta de corrente eléctrica, a meio da prestação dos Napalm Death, conseguiu esmorecer os ânimos. Com novos trabalhos em carteira, Napalm Death e Cradle of Filth concentravam, naturalmente, as maiores expectativas da noite. Aos estreantes Borknagar coube a sempre ingrata tarefa de abrir para os "monstros", mas a verdade é que o grupo não acusou a responsabilidade e cumpriu. Com uma sonoridade que aposta com frequência no cruzamento de explosivas descargas "thrash-speed" com trechos melodiosos mais próximos do "doom", a proposta dos Borknagar mostrou possuir ingredientes capazes de a tornarem mais atractiva num futuro próximo. A conferir, portanto. Depois da curiosidade, o pandemónio. Napalm Death em palco e na plateia instala-se o frenesim. Uma constante de início (com "I Abstain") a fim, com "Nazi Punks F*ck Off", que só a falta de corrente eléctrica conseguiu interromper. "Scum" ficava a meio, mas seria retomado ao fim de quase uma hora de intenso braseiro. Uma palavra de apreço aqui para a organização, que tratou de ir distribuindo águas e gelo e, mais tarde, justificou publicamente o facto com "obras no exterior". Coesos, desenvoltos e com um "groove" que só se atinge com a maioridade, os Napalm Death impressionaram em especial em temas como "Suffer the Children", "Diatribes" e "Next to Kin to Chaos" e "Infiltrator", estes dois retirados do novo álbum, "Words From the Exit Wound". Uma actuação possante que valeu sobretudo pela demonstração de vitalidade dos senhores do "grindcore" que, humildemente, aceitaram partir para a estrada dispensando o tratamento de cabeças de cartaz. Nessa condição apresentaram-se os Cradle of Filth, que assinaram no Garage um tão brutal quanto majestoso espectáculo. E sublinhe-se espectáculo, já que esta foi uma das componentes mais importantes ao longo da actuação do grupo, desta vez servido por um deslumbrante jogo cénico e umas quantas bamboleantes bailarinas. Apesar do novo álbum para promover, "Cruelty and the Beast", os Cradle não deixaram de passar em revista o passado gótico, flagrantemente exemplificado no excelente "A Gothic Romance", ou as demoníacas árias, como "Summer Dying" ou "The Forest Whispers My Name". De entre os novos temas apresentados, destaque para "Crulty Brought Thee Orchids", "Twisted Nails of Faith" e "Desire In Violent Overture", épicas elegias servidas por uma voz possuída ora pela ferocidade ora por lânguidos lamentos. Neste registo, realce também para o instrumental "Venus in Fear, onde gemidos de prazer se (con)fundem com lancinantes gritos de dor. Substituindo a atitude teatral de outrora por uma mais agressiva postura rock, os Cradle of Filth reservaram para final "Sodomy and Lust" (Sodom), apresentado numa mescla com "Hell Awaits", dos Slayer. Um epílogo brutal num espectáculo único. L.F.S.

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